Dia de Finados: o luto pela perda de um animal deve ser respeitado

A morte de um animal pode ser tão ou mais devastadora que a perda de

um humano.

A tradição de visitar o túmulo de entes queridos no Dia de Finados há muito tempo não é praticada apenas em cemitérios de humanos, isso porque tem sido cada vez mais comum a existência de cemitérios destinados à animais, o que faz com que inúmeros tutores dediquem parte do seu tempo, nesta data, para homenagear um animal com o qual ele conviveu e de quem sente falta.

O luto sofrido pelo tutor após um animal morrer deve ser respeitado (Foto: Divulgação)

O luto é uma experiência particular e, dessa forma, atinge cada pessoa de um jeito diferente. Mas, independentemente da intensidade e do tempo em que dura o sentimento de tristeza pela perda de um animal, o fato é que o luto deve ser respeitado.

Lamentavelmente, a sociedade não costuma entender o luto sofrido por alguém que perdeu um animal. Causa estranheza, muitas vezes, uma pessoa passar por um período de sofrimento intenso após, por exemplo, morrer o cão ou gato tutelado por ela. Essa cultura de insensibilidade diante da dor alheia prejudica a saúde mental dos tutores de animais, impedindo que sentimentos sejam expostos. Muitos deles deixam de demonstrar o que estão sentindo por medo da reação da sociedade, outros se sentem até mesmo incomodados e envergonhados por ficarem profundamente tristes com a morte de um animal.

Em um artigo publicado, em 2003, na revista Professional Psychology: Research and Practice, pesquisadores afirmaram que “muitas pessoas – incluindo tutores de animais – sentem que o sofrimento sobre a morte de um animal não é digno de tanto reconhecimento como a morte de uma pessoa. Infelizmente, isso tende a inibir que as pessoas sofram completamente quando um animal morre”.

Organizações como a canadense Blue Cross e grupos mensais de apoio em Alexandria e Fairfax County, nos Estados Unidos, têm oferecido serviços para ajudar tutores a atravessar os momentos difíceis advindos da perda de um animal. Esse trabalho também é realizado no Brasil, em hospitais veterinários que contam com psicólogos.

Um estudo de 1988, publicado no Journal of Mental Health Counseling, pediu a um grupo de tutores de cães que colocassem símbolos em um círculo que representassem seus familiares e seus cachorros. A distância entre a pessoa e os símbolos correspondia à proximidade relativa e real daqueles relacionamentos. O resultado da pesquisa concluiu que os sujeitos tenderam a colocar o cão mais próximo de si do que o membro médio da família e tão próximo quanto o membro mais importante. Em 38% dos casos, o cachorro estava em primeiro lugar, como o mais próximo do humano.

 

Relembrar os bons momentos é uma das formas de aprender a lidar com o luto (Foto: Divulgação)

Publicado na revista Society & Animals, em 2002, um artigo analisou diversos estudos e concluiu que a morte de um animal pode ser “tão devastadora como a perda de um outro significativo humano”.

O escritor Joe Yonan, em um artigo escrito por ele e publicado no The Washington Post, relatou a experiência que viveu após seu cachorro morrer. “Faz quatro meses, e, mesmo que alguém me pergunte sobre esse dia, minha voz vai falhar. Por “naquele dia”, quero dizer, o dia em que cheguei em casa do trabalho para encontrar meu Doberman, Red, esgueirado no chão do meu quarto, a cabeça para um lado, seu corpo sem vida, mas ainda quente. É uma imagem que não consigo remover da cabeça, por mais que eu tente”, afirma Yonan, que completou dizendo que “durante os dois meses que vivi nesse apartamento depois que ele morreu, o sofá nunca parecia tão vazio, nem o lugar tão calmo”.

Em seu artigo, Yonan cita a entrevista, concedida a ele, da diretora do Centro de Interação Homem-Animal da Universidade da Virgínia da Commonwealth, Sandra Barker, que realiza um trabalho de aconselhamento aos tutores após a morte dos animais e também ensina estudantes de medicina veterinária sobre a importância de entender o processo de luto. Sobre tutores que sentem-se envergonhados ou surpresos por sofrer mais pela perda de um animal do que de um irmão ou pai, Barker afirma que “quando eles percebem que a diferença é que o animal lhes deu constante companheirismo, e houve uma dependência total, então eles começam a perceber que é por isso que estão sofrendo tão intensamente”.

Até mesmo o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, afirmou, em entrevista à Newsweek em 2002, que a morte de Buddy, como era chamado o cão, foi “de longe a pior coisa” que ele experimentou depois de deixar a Casa Branca.

Respostas emocionais e comportamentais

Ao perder um animal pelo qual o tutor tem amor e apego, a pessoa pode apresentar respostas emocionais e comportamentais. Entre as primeiras estão: negação, incapacidade de aceitar a perda, lágrimas intensas, desorientação, insônia, descrença, choque, perda de apetite, raiva, culpa, isolamento, depressão, sentimento de que a pessoa nunca mais será a mesma, de que está enlouquecendo e sentindo que não pode tolerar a dor.

O companheirismo ofertado por cães e gatos aos humanos gera saudade após a morte (Foto: Divulgação)

As respostas comportamentais incluem o desejo de dormir com objetos que pertenciam ao animal ou até mesmo a necessidade de evitar contato com tudo que era dele, deixando, inclusive, de retirar os pertences do local onde estão e até deixar de dormir na própria cama porque ela era dividida com o animal – no caso dos tutores que dormem com os cães ou gatos. A tentativa de manter a mesma rotina da época em que o animal estava vivo também é uma resposta comportamental.

Desses sintomas, especialmente da depressão, pode vir a ideia do suicídio, visto que a perda do animal na vida de uma pessoa que já sofre de outros problemas que lhe causam tristeza e angústia pode ser razão para intensificar crises depressivas. Nesse caso, é necessário intervenção médica.

Duração do luto

Não há tempo estabelecido para o período de luto acabar. Por tratar-se de algo de caráter totalmente pessoal, cada pessoa irá lidar com tal situação de uma forma diferente. Este momento de dor, inclusive, varia de intensidade e durabilidade de acordo com a importância do animal na vida do tutor.

Entretanto, com o tempo, o sofrimento vai se tornando mais tolerável e tende a ser substituído pelo sentimento de saudade, algo mais ameno e suportável, que permite que a pessoa leve sua vida adiante apesar da ausência do animal.

Gastar tempo com pessoas e outros animais que trazem conforto, realizar atividades que sejam do agrado do tutor e participar de eventos que sirvam para distrair a atenção são boas táticas para tentar mudar o foco da dor e aprender a lidar com ela. É importante, também, que o tutor se esforce para lembrar de todos os bons momentos vividos ao lado do animal, como uma forma de consolo, e não se concentre apenas na morte.

A adoção de outro animal, quando o tutor já está preparado para isso, também pode ser uma forma de ajudar a passar pelo luto. Afinal, adotar um novo amigo não é uma traição, como muitos lamentavelmente pensam, ao animal que faleceu, pelo contrário, é uma forma de honrá-lo salvando novas vidas.

Fonte : ANDA

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